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A Bahia e a ferrovia transcontinental

  • 05 de Julho de 2015

Condenada durante muitos anos pelos norte-americanos que temiam o acesso dos japoneses aos minérios do Brasil, o projeto de uma ferrovia a transcontinental, do engenheiro baiano Vasco Azevedo Neto volta a ordem do dia, agora embalado pelos chineses. Vasco Neto como deputado federal conseguiu iniciar a construção do porto de Campinho com 10m de calado, em Marau, na década de 1970, onde a ferrovia teria sua estaca zero. Mas o rodoviarismo dos militares não permitiu que a ferrovia fosse iniciada.

Imagino que a ferrovia deveria chegar ao Pacífico à altura da sua partida no Atlântico, ou seja na latitude de 14º Sul. Do ponto de vista econômico e geopolítico o ideal seria chegar na divisa entre o Chile e o Peru que está a 18º Sul, no porto de Arica, Chile. Isso permitiria a tão almejada saída da Bolívia para o mar e atender a quatro países da América do Sul. Brasil. Bolívia, Peru e Chile passariam a exportar seus produtos tanto pelo Atlântico quando pelo Pacífico. Este traçado, além de ser o mais curto, evitaria cortar a floresta amazônica e molestar os índios daquela região.

Mas lobbies brasileiros e peruanos querem fazer uma ligação que é um contrassenso. Sair do projetado porto de Açu, no Rio de Janeiro, que está a 23º S e chegar a Bayovar (6º S) ou Paita no extremo norte do Peru passando por Rondônia e Acre. Seriam 4.400Km. de ferrovia só em território brasileiro criando um impacto ambiental e étnico enorme. O presidente Evo Morales, que luta no Tribunal Internacional de Haia para a Bolívia ter um porto livre no Pacifico, já protestou contra a exclusão de seu país desse projeto e o Chile deverá seguir o mesmo caminho.

Para chegar ao Pacífico, seja ao porto de Arica, seja ao de Bayovar, essa ferrovia terá que cruzar a cordilheira dos Andes a uma altura mínima de 3.800 m. A questão é, portanto, mais geopolítica que técnica. Ligando apenas dois países ela será um fracasso, como foi o projeto Bioceânico Aconcágua, argentino-chileno. Creio que um projeto que integre as economias de quatro países tem maior viabilidade que o binacional que liga o Rio de Janeiro a Bayovar.

Nada está definido, mas se a proposta do governo federal, que privilegia o Rio, for a escolhida pelos chineses a Fiol, já em grande parte construída, e o Porto Sul, que não saiu do papel, serão abandonados e o nosso estado marginalizado num projeto que foi seu autor. Articulando a Fiol com a ferrovia Centro-Atlântica e o leito da antiga E.F. Nazaré poderemos chegar ao maior porto natural do Atlântico Sul, a Baia de Todos os Santos, especificamente ao hubport de Salinas da Margarida que tenho defendido em alguns fóruns e neste jornal. Seria um porto em aguas abrigadas com calado de 21m., à altura de uma ferrovia de integração do Cone-Sul. Esta ferrovia seria a redenção econômica da Bahia.

Para que isto se concretize, qualquer que seja o destino no Pacifico, é preciso que a nossa bancada parlamentar se una, o Governo da Bahia crie urgentemente um grupo de trabalho e o ministro Jaques Wagner pressione o Governo Federal e os chineses a assumirem o ponto de partida da ferrovia de Vasco Neto na Baia de Todos os Santos. Acorda Bahia. “Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

SSA: A Tarde, 05/07/15


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