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A vulnerabilidade do orgulho nacional

  • 15 de Julho de 2018

Ah, essa mania brasileira de contrariar a gravidade! No colégio de Belém de Cachoeira, um seminarista paulista fez a água subir 40 metros e criou o primeiro objeto voador do mundo, a Passarola, ou balão de ar quente. Chamava-se Bartolomeu de Gusmão, ou o padre voador. Demonstrou sua invenção a D. João V, no Paço Real de Lisboa, em 1709, e foi perseguido pela Inquisição por ser considerado feiticeiro e amigo de judeus, se exilando na Holanda, onde mendigava vendendo poções nas ruas. Morreu em Toledo aos 38 anos. Em 1783, os irmão franceses Montgolfier construíram um balão muito maior e um deles conseguiu voar, sendo reconhecidos como os inventores do balão de ar quente.

Em 1855, Guilherme Capanema aperfeiçoou e fabricou foguetes, que 10.000 deles foram usados pelo Brasil na guerra do Paraguai, mas foram abandonados porque não tinham sistema de navegação. Um outro brasileiro se encantou com os balões de gás, motores à explosão e hélices e fez os primeiros balões-charutos dirigíveis. Com um deles ganhou um prêmio, em 1901, ao fazer a volta na torre Eiffel e retornar ao ponto de partida em 30 minutos. Em 1906, fez voar um aparelho mais pesado que o ar a 4 m. de altura e 220 m. de distância no parque de Bagatelle, homologado pelo Aeroclube da França.

Mas a invenção do avião foi creditada aos irmãos Wright, construtores de planadores, que três anos antes empurrados do alto de uma colina em sua fazenda, com uma ventoinha nanica de 15 hp, plainou 260 m. Mas ninguém nega que o inventor do Zepelim e do avião moderno, com asas na frente e lemes atrás, como o Demoiselle, o primeiro ultraleve, foi um brasileiro. Tachado de boiola, porque nunca se casou, e deprimido pelo uso militar do avião se suicidou em 1932. Em 1941 começamos a fabricar o Paulistinha, que equipou os 300 aeroclubes criados por Chatô e difundiu o ensino da pilotagem no país.

O programa espacial brasileiro foi instituído em 1961 por Jânio Quadros com o decreto nº 15.133/61 e encerrado em 2003, quando o foguete VLS-1 V03 explodiu misteriosamente três dias antes do lançamento em Alcântara matando os 21 principais especialistas brasileiros. Segundo o jornal Estadão (20/05/18), documentos liberados pela CIA em 2016 revelam que satélites norte-americanos espionaram a base se lançamentos de foguetes na Barreira do Inferno e outras instalações militares brasileiras, entre 1978 e 1988.

O último sonho brasileiro de voar data de 1969, quando Ozires Silva dirigiu a Embraer, que desenvolveu o Tucano, é o terceiro fabricante de aviões do mundo e desenvolve um caça supersónico com os suecos. Como ameaçava crescer, está sendo comprada pela Boeing. De quebra, é alienado um naco do orgulho, da ciência e da tecnologia nacional. Voltamos a ser fornecedores de matérias primas baratas para o engrandecimento dos países ricos. Mas não se avexem não, porque “o que é bom para EUA é bom para o Brasil”, segundo o ex-embaixador Juracy Magalhães junto ao Tio Sam
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SSA: A Tarde, de 15/07/18


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