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O cinema dos excluidos

  • 18 de Abril de 2021

Nos tempos áureos de Hollywood e Cinecittà, a produção cinematográfica era caríssima. As primeiras filmagens a cor eram feitas com câmaras que rodavam três películas ao mesmo tempo, cada uma registrando uma cor básica, câmeras Three-Strip Technicolor (1932), o que tornava suas máquinas tão pesadas que só podiam ser movimentadas com gruas ou em carretas sobre trilhos. Além do mais, os resultados das filmagens só eram conhecidos depois de reveladas nos estúdios. Quando havia qualquer problema, era preciso refazer a relocação, de custo elevado.

Com as filmadoras digitais, esses equipamentos passaram a ser levados no ombro ou na mão, podem filmar em condições de iluminação muito precárias e os resultados são vistos na hora. Hoje se filma com câmaras fotográficas e até com celulares em entrevistas para a TV. Isso tornou o cinema acessível a novos cineastas sem recursos, exibindo problemáticas que o grande público não conhecia. Naqueles anos, os grandes estúdios americanos dominavam a distribuição e as salas de exibição. No Rio, em São Paulo e em outras capitais havia grandes cinemas Metro (Goldwyn Mayer). Hoje esse monopólio foi quebrado e surgiram plataformas na internet, como a Netflix, Amazon e Stremio que, além de suas series, exibem filmes de todo o mundo. Isto provocou uma revolução no cinema, que deixou de ser uma indústria prioritariamente do entretenimento, para ser uma forma de expressão do drama e da aventura humana, como o teatro e a literatura.

Países sem tradição, como a Índia, China e Nigéria passaram a ser grandes produtores de cinema. Interessante é a temática desses novos diretores e a qualidade de sua produção. Parasita ganhador e Tigre branco, candidato ao Oscar de filme estrangeiro, vieram da Correia do Sul e da Índia mostrando que apesar do desenvolvimento tecnológico, a ascensão social é dificílima nesses países. Rosa e Momo é outro candidato a esse Oscar, do filho de Sofia Loren, que retrata os dramas de uma sobrevivente do holocausto e de um menino africano imigrante na Europa. Ya no estoy aqui, ganhador de dez prêmios Ariel da Academia Mexicana de Cinema relata a odisseia de um pivete chamado Ulisses que, perseguido por uma gangue rival, emigra ilegalmente para os Estados Unidos e luta para voltar para o seu grupo de dançarinos de cumbia, numa favela em Monterrey.

Filhos de Istambul, recém-lançado, mostra a tragédia dos meninos de rua e catadores de lixo na Turquia, igual aos daqui, frente à indiferença das autoridades. Mesmo num país rico, como os EUA, existem excluídos, homens e mulheres velhos que rodam o país em busca de trabalho temporário, porque não podem viver com uma aposentadoria de USD $350.00. Nomadland, de uma diretora chinesa, é forte concorrente ao Oscar de 2021. Adeus musicais românticos.


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