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Para que biografias?

  • 25 de Julho de 2021

Estou lendo uma, Lina Bo Bardi, o que eu queria era ter história. Esta frase de Lina define a função das biografias. Elas servem para explicar a obra de literatos, cientistas, artistas e políticos. Há um mês me telefonou uma arquiteta perguntando se eu aceitaria orientá-la na sua dissertação. Perguntei qual seria o tema e ela me disse, a arquitetura pré-colombina americana. Você está louca? Por que não estudar um tema daqui? Agora sou eu quem pergunta, você me aceitaria como orientador de um tema que vou lhe propor? Ela disse sim. Então, estude a reforma urbana de Salvador de ACM, o velho. Ela desapareceu.

Naturalmente este tema seria um detalhe na biografia de ACM, como é a tese do Prof. Paulo Fábio Dantas Neto sobre sua decolagem política, o livro de Joca sobre sua luta desigual com ACM, As veias abertas do Carlismo de Maneca Muniz e ACM, o mito de José B.F. Mattos, mas estes últimos muito passionais. Não conheço mais nada sobre ACM. Dizia-se que Fernando Morais, especialista em biografias de personalidades polêmicas, como Assis Chateaubriand, estava fazendo sua biografia, mas parou. É incrível que um político que foi prefeito, três vezes governador, presidente do Senado e reinou durante 40 anos na Bahia não tenha uma biografia, ou melhor, uma história.

Figura polêmica, politicamente de direita, perseguiu opositores e jornalistas, reprimiu movimentos sociais e sindicatos, o que lhe valeu a alcunha de Toninho Malvadeza, mas acolheu em sua administração pessoas de esquerda e LGBT e se tornou amigo de Fidel Castro. Quando Havana sofreu um apagão telefônico, ele como Ministro das Comunicações, mandou de avião uma grande central telefônica de presente. Uma personalidade complexa como a de Chateaubriand, que precisa de uma biografia.

Como gestor urbano, ACM consultou Lucio Costa, Burle Marx e Diógenes Rebouças, brigou com os três, e atuou na cidade por conta própria. Quais foram suas motivações para mudar o centro tradicional de Salvador? Por que criar um Centro Administrativo aonde só vai lá quem tem negócio? E um centro comercial, o Iguatemi, que é o nó dos dois maiores acessos a Salvador, a BR-324 e a Estrada do Coco e a cidade, sem uma praça ou rótula? Tiveram essas obras relação com a criação de seu império de comunicações? São perguntas que precisam ser respondidas. Mas ele fez as avenidas de vale do EPUCS, embora trocando sua função habitacional para serviços de baixa qualidade.

Não se pode negar que ACM fez avenidas com canteiros centrais que eram parques, como a Paralela, a Juracy Magalhães Jr. e a que leva seu nome, que estão hoje sendo desflorestadas e transformadas em viadutos engarrafados da pior qualidade. É deprimente para a inteligência baiana o que fizeram na Via Expressa, na Rótula do Abacaxi, na Paralela, e nas Avs. ACM e Orlando Gomes. Não estou defendendo ou acusando ninguém, senão pregando a necessidade de se fazer a História, que é também nossa.


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