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Festas pagãs, religiosas e materialistas

  • 26 de Dezembro de 2021

Acabamos de celebrar o Natal, a festa cristã que saúda o nascimento de Jesus e a Nova Aliança. Não é por acaso que o Natal foi associado ao inverno, ao pinheiro, à neve e a Santa Claus (Papai Noel), que vive no polo norte. A maioria das festas religiosas tem origem pagã nos rituais de passagem das estações, embora ressignificadas pelas religiões.

 

O mundo ocidental só conheceu o trópico quando Colombo chegou à América (!492) e Vasco da Gama cruzou o Cabo das Tormentas (1497) e aportou na Índia. Por isso, nossas festas religiosas estão ligadas às estações do hemisfério norte. O capitalismo sonso transformou o Natal no maior mercado de consumo conspícuo mundial, quando as famílias, inclusive as mais pobres, são compelidas a comprar presentes caros para filhos, parentes e amigos para demonstrar seu amor. Assim, o Natal do esbanjamento de alguns é também o Natal da frustração e da exclusão para muitos.

 

A páscoa dos judeus (pessach) e dos cristãos ocorre no equinócio da primavera setentrional. Embora com significados diversos, elas têm em comum a marca do início de um novo tempo. Para os judeus significa a libertação do Egito. Para os cristãos a ressurreição de Cristo. Os símbolos são parecidos e denunciam sua origem pagã, o ovo da fertilidade, o pão ázimo, o vinho, a caça pelas crianças das ninhadas de lembranças. Os industriais dos alimentos transformaram a páscoa na festa unificada do chocolate. O ramadã dos islâmicos, embora siga o calendário lunar, na maioria das vezes coincide com esse período.

 

O carnaval tem também sua origem pagã. Ele deriva das saturnais, a entrada na primavera, e das bacanais, festas ao deus Baco do vinho, entre os romanos. A Igreja ao decretar o jejum e a abstinência de carne a partir da quaresma, induziu o povão a festejar a despedida da carne, ou carnaval. Fiel a Baco, o carnaval é hoje o festival das cervejarias.

 

O nascimento de João Batista, que batizou Jesus, a nossa popular festa de São João, ocorre no solstício de verão no hemisfério norte. É provável que a fogueira tenha origem pagã. Eram acesas com a chegada das primeiras ondas de frio. É menos crível que a fogueira tenha sido acesa por Isabel, mãe de João, para anunciar seu nascimento à sua prima Maria, mãe de Jesus, sua vizinha.

 

Entre os incas de Cusco, o solstício de inverno, em junho, quando os dias voltam a crescer, é uma festa religiosa, o Inti Raymi, que se transformou no maior festival do Peru, carreando milhões de dólares e euros de turistas estrangeiros. O ano novo judaico, Rosh Hashanah, com shofar ou berrante, coincide, mais ou menos, com o equinócio outonal do norte, em setembro, fechando o ciclo das estações.

  

 “O que foi voltará a ser, o que aconteceu, ocorrerá de novo, o que foi feito se fará outra vez; não existe nada de novo debaixo do sol”. Eclesiastes 1:9


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