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A rainha que reinou até depois de morta

  • 01 de Outubro de 2022

Nestes tempos bicudos de guerra na Ucrânia, de inflação e recessão altas em todo o mundo e da Alemanha ameaçada de morrer de frio, a Inglaterra produziu o maior espetáculo da Terra. Muito superior às grandes produções de Hollywood da década de 1940, como o filme Escola de Sereias, com Esther Williams e suas alunas saltando de altos trampolins em meio a jatos d’água, dos desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, que Franco Zefirelli classificou como o maior espetáculo do mundo, das espalhafatosas paradas militares da antiga União Soviética ou dos desfiles de Mickey em Disneyworld ou das acrobacias do Cirque du Soleil.

Depois da Covid e da guerra sem fim da Ucrânia, precisávamos realmente disto para levantar a nossa moral. O enterro de Elizabeth II, planejado com antecedência e orientado por ela própria, foi um luxo. Quatro mil militares fantasiados de soldadinhos de chumbo com seus chapéus bearskins, pelo de urso, marchando. Missas de corpo presente, solos e concertos de gaitas de fole, corais, desfile do caixão em carros de luxo e em carretas, velório de quatro dias e repetidas badaladas do Big Ben encheram os 11 dias do funeral da rainha com coreografias e performances perfeitas. Que diferença para o funeral do Príncipe Philip, com seu caixão sobre um jipe Land Rover adaptado!

Antes mesmo do enterro da rainha, foi comemorada a posse do novo rei. Em respeito ao cargo, os tabloides londrinos evitaram divulgar os escândalos do Príncipe Charles, como o Camillagate, seu telefonema a Camille dizendo que queria ser seu “ob”, ainda casado com Lady Diana e que ele sofre de TOC. Agora rainha-consorte, título dado por Elizabeth II, que odiava Diana, Camilla vai reinar. Condição que nem o Príncipe Philip mereceu.  

Não faltam conflitos à família real. O príncipe Andrew, filho da Rainha Elizabeth II, se envolveu em um escândalo sexual ao lado do financista americano Jeffrey Epstein. O escândalo causou tanto constrangimento à rainha, que ela lhe tirou seus títulos militares e de alteza real. Os príncipes Harry e William, filhos de Charles e Diana, não se falam porque suas esposas, Meghan Markle e Kate Middleton, respectivamente, não se entendem. Em 2020, Harry e Meghan anunciaram que estavam renunciando aos seus privilégios reais. Queriam ser  independentes financeiramente e morar no Canadá.  Merghan Markle, atriz, divorciada, americana, e filha de mãe negra, em entrevista à Oprah, afirmou que quando estava grávida de Archie, seu primeiro filho com Harry, teve que lidar com pessoas da casa real preocupadas com a cor da pele do bebê.

 

Mas a rainha morta conseguiu colocar todos juntos, marchando como soldadinhos de chumbo, no maior espetáculo da Terra para a sua glória e do antigo Império Britânico. Recordar é viver!

 


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