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Defenestração
Vocês já devem ter ouvido e até usado esta palavra, mas provavelmente não sabem a sua origem. Ela significa jogar pessoas ou coisas pelas janelas (Fr. fenetre). O termo é antigo e foi cunhado em Praga, onde nasceu Kafka. A primeira Defenestração de Praga ocorreu em 1419. O reformador da Igreja Jan Hus, considerado herético, morreu na fogueira em 1415, mas deixou seguidores fanáticos, dando início às guerras hussitas.
O episódio foi deflagrado pela recusa do Conselho de Praga em libertar fanáticos hussitas. Seus partidários tomam o prédio, com a conivência dos guardas, e lançam pelas janelas sete parlamentares que os fanáticos acabaram de matar. Os vândalos atacaram em seguida templos e conventos católicos. As guerras hussitas terminaram em 1436, quando os hussitas radicais foram derrotados e os moderados se uniram aos legalistas. Uma segunda defenestração ocorreu em 1618 e deu origem à Guerra dos 30 Anos.
A violenta razia do dia 8 em Brasília é o retorno àquelas barbáries de seis séculos atrás. O símbolo da república e muitas cadeiras foram defenestradas na sede do STF e no Palácio do Planalto. Na falta de parlamentares para trucidar, vândalos saltaram das janelas daquele palácio agarrados a mangueiras de incêndio. Apesar de não ser a única causa, a invasão tinha também razões religiosas e de fanatismo messiânico. O que queriam os vândalos era defenestrar a democracia brasileira, mas o tiro saiu pela culatra e eles surtaram num caso típico de paranóia esquizofrênica suicida.
Embora tenham praticado barbáries políticas e culturais durante quatro anos, os messiânicos não se sentiam confortáveis e quiseram fazer o “descarrego” de seu ódio depredando edifícios, móveis, obras de arte, fotos e roubando armas, documentos e arquivos de computadores. Um vândalo regrediu a fase anal da primeira infância sendo fotografado em prática escatológica e fétida.
Não fosse a intervenção rápida na Secretaria de Segurança e no Governo do Distrito Federal, poderíamos ter uma guerra civil como na Tchecoslováquia. Foi a anistia dos torturadores no final do regime militar que permitiu que um capitão expulso do Exército por indisciplina se elegesse presidente deste país e durante quatro anos insuflasse seus seguidores para contestarem os três poderes que culminou na razia do último dia 8.
Serviu para alguma coisa aquela baderna? Serviu! A farsa acabou, o Messias está nu para a nação e o mundo ver quem ele é. Nem Deus, nem pátria, nem família, mas caos, desordem e violência. Qualquer cidadão do Brasil, independente de partido e de ideologia, se dá conta que é impossível construir uma nação com fanáticos e terroristas. Os messiânicos radicais serão presos e os de cabresto se unirão aos legalistas para a reconstrução do país. Haverá alguém que ainda queira liderar esse espólio kafkiano?