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O fenômeno Pelé

  • 08 de Janeiro de 2023

 Onassis era um gênio, de imigrante e contrabandista de tabaco em Buenos Aires se transformou no maior armador do mundo e conquistou as mulheres mais famosas de sua época, a prima-dona Maria Callas e Jacqueline Kennedy e criou um aforismo lapidar: A coisa pior que pode acontecer a uma pessoa é ficar famosa, é como ter que desfilar nua diante de uma plateia, mesmo quando se é belo é sempre ridículo.

Com medo disso, alguns artistas pegaram a síndrome de Greta Garbo, a diva do cinema mudo que, no auge da fama, fugiu dos holofotes com medo de decepcionar a plateia. Síndrome que atacou também João Gilberto e Belchior e os escritores Juan Rulfo e Margareth Mitchell.  Pelé conseguiu driblar esses dois fantasmas.

 Pobre de quem pensa que Pelé tinha apenas força e habilidade nos pés. Como disse Dr. Tostão, “ele possuía inteligência cinestésica, a capacidade de em uma fração de segundo, mapear todo que está em sua volta e calcular a velocidade da bola, dos companheiros e dos adversários”. Foi também um estrategista fora do campo, evitando o cabotinismo de majestade e não se retirando do palco antes do fechamento das portas do teatro, como aconteceu no último dia 29. Não há ninguém no plano internacional que tenha sabido administrar tão bem sua imagem. Mesmo depois de aposentado era convidado para a abertura de todas as Copas e Olimpíadas e ganhou todas as homenagens que um esportista e personagem pública pode almejar.

 O que explica sua ascensão meteórica, quando existiam na época outros futebolistas notáveis como Beckenbauer, Puskas, Eusébio? Sem dúvida sua genialidade. Mas alguns fatores ajudaram, como seu debut aos 17 anos ganhando uma Copa, sua negritude e origem humilde, que servia aos conservadores dizerem que não existia racismo quando existia competência. Nada conseguia arranhar o brilho de sua carreira, nem deslizes imperdoáveis como a adesão à campanha Pra frente Brasil dos militares em 1970, a discrição na luta antirracista, o cachê para a inauguração de uma estátua na Fonte Nova e a negação de uma paternidade.

Pelé virou uma referência. Presidentes, reis, primeiros-ministros, artistas e até Kissinger, o chanceler ianque que se aproximou da China e pôs fim à Guerra do Vietnam, todos cortejavam o Rei Pelé. Nenhum outro astro do futebol, como Maradona, Messi, Zidane, Cristiano Ronaldo, Mbappe, Neymar e Ronaldinho contestou seu título de rei. Muitos comentaristas esportivos dizem que Pelé inventou o futebol-arte. Não sei o que é isto, só sei que Pelé era também um ator, dando saltos e murros no ar depois de cada gol e trombando com outro jogador e caindo no gramado gemendo para simular uma falta e sorrindo sempre para os repórteres e fotógrafos. Isto o ajudou muito. Pelé conseguiu ser uma esperança para os mais pobres e uma unanimidade global para os mais famosos e ricos! 

 

 


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