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Aí de ti Baía de Todos os Santos e Orixás

  • 25 de Junho de 2025

Delfim Netto dizia que há projetos que é melhor se pagar para não se fazer do que realizar. É o caso da ponte São Joaquim-Mau Despacho que nasceu de um palpite infeliz de uma ex-primeira dama. Seu orçamento já duplicou e com as obras complementares, como acessos, viadutos, túneis e o alargamento da Ponte do Funil, pode chegar a R$30 bilhões. Recentemente o Governador esteve na China para agilizar essa novela e deu uma entrevista:

“Ao A TARDE, o governador detalhou as demandas dos chineses. Os representantes do consórcio pediram, entre outras coisas, garantias acerca de um possível aumento do custo das obras devido à maleabilidade do solo da Baía de Todos-os-Santos; agilidade na liberação de vistos para os trabalhadores chineses no Brasil e apoio para a liberação de novos financiamentos” (06/06/2025). Ou seja, não se sabe quanto vai custar nem como vai ser financiado esse projeto dos anos 1970, pois não entrou no PAC do Governo Federal nem na Nova Rota da Seda dos chineses.

PPP é aquela modalidade de pegadinha que um governo paga o sinal de uma obra e deixa para seus sucessores o principal, como vimos na Fonte Nova, quando perdermos um parque olímpico e pagamos R$165 milhões anuais durante uma vida. Habilmente os chineses reduziram a altura livre do vão principal da ponte o que inviabiliza a passagem de grandes navios e a produção nacional de plataformas de petróleo, que eles são os maiores produtores do mundo.

Ganham os chineses, perde o Estado da Bahia, um dos mais emperrados da federação, que terá que pagar durante 30 anos renováveis o pedágio pleno dessa ponte de igual gabarito da Rio-Niterói, por onde passam 140 mil veículos/dia. Perde a RMS que terá a Via Expressa, a Av. Paralela e a Estrada do Coco enfartadas. Com a duplicação da área pobre de influência de Salvador, seus serviços de saúde, educação, habitação e lazer, já precários, ficarão mais congestionados.   

Perde a Ilha, que será transformada num favelão como São Gonçalo, município vizinho a Niterói, terminal de jamantas e bitrens que não podem entrar na cidade. Perde a banda leste da BTS marginalizada, com os portos de Aratu, Temadre, Estação de Gaseificação, os centros industriais do Cia, a Refinaria de Mataripe, o Estaleiro da Enseada e as cidades históricas do Recôncavo. Perde as comunidades de pescadores, marisqueiras e de candomblé que não podem chegar às praias com uma via expressa veloz que corta a ilha no meio.

Perde o comércio e os serviços de Nazaré, Santo Antônio de Jesus, Valença e Feira de Santana, com a concorrência dos atacadões, escolas e clínicas de Salvador. Perde uma das mais belas baías do mundo com uma brida (bridge) torta em sua boca. Quão mais lógica, produtiva e prazerosa seria a Envolvente da BTS que essa ponte que macaqueia o ferry-boat da década de 1970 e não funciona!


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