Artigos de Jornal
As etapas de criação de uma quimera peçonhenta
Diante da ação do Ministério Público Federal de abrir a discussão sobre os impactos da ponte SSA-Itaparica atendendo a um pedido da população da ilha e da intenção do ciber-grupo Kirimurê de fazer o mesmo com relação aos impactos sobre Salvador, a diretoria do consórcio chinês deflagrou uma campanha publicitária nos jornais que exige esclarecimentos.
O projeto de ligação São Joaquim-Bom Despacho, de 1969, caducou há décadas devido à triplicação da população da cidade, ao advento do transporte de massa e desarticulação com outros projetos viários como a ligação ferroviária Salvador-Feira. Esta via pode ter uma variante rodoferroviária paisagística envolvendo a BTS chegando a Itaparica pela contra costa, se articulando com a Fiol e transformando a BTS no terminal da ferrovia bioceânica e a Bahia numa Singapura do Atlântico Sul.
Dizer que essa ponte, por onde vão passar 150 mil veículos/dia como a Rio-Niterói, de igual gabarito, não vai impactar Salvador é negar a atratividade da Linha Verde (BA-099) na ligação Sudeste-Nordeste e Sertão/praias/aeroporto. A Via Expressa, a Av. Paralela e a Estrada do Coco vão colapsar e provocar um caos urbano. Afirmar que ela vai desenvolver a RMS (A Tarde, 21/7/25 e 14/8/25) é outra falácia. Ela vai marginalizar toda a banda leste da baía, a própria RMS com seus portos, centros industriais e potencial turístico histórico e náutico.
A primeira etapa dessa ponte vai destruir com seu canteiro de obras grande parte da feira de São Joaquim, último reduto de venda de produtos afro-baianos, e transformar a Soledade num formigueiro com mais dois túneis. A segunda etapa é a própria ponte com seus dois pilares mais altos, com 218m, e pesados no ponto mais frágil da falha geológica de Salvador exigindo estacas de 200m sujeitas a reajustes. A terceira etapa é uma via expressa de 30 km cortando a ilha ao meio e dificultando o acesso da população de pescadores, marisqueiras e do candomblé às praias da baía. A última etapa desse projeto é o afunilamento dessa via para se enfiar na pinguela do Funil.
Ponte que vai dificultar o funcionamento do porto de Salvador exigindo dragagens, sem área de fuga em caso de intempéries, e garrotear os portos internos da BTS: Aratu, Temadre, Estação de Regaseificação e Estaleiro da Enseada, que já parou com o anúncio da ponte.
PPP é aquele truque que uma administração inaugura uma obra política e deixa a conta para ser paga pelas administrações futuras. O exemplo disso é a Arena da Fonte Nova. Quanto teremos de pagar anualmente de pedágio não recolhido nessa ponte que só é alimentada pela pinguela do Funil? É o tarifaço de Xi Jinping que se soma ao de Trump aos baianos.
Ponte torta, assimétrica, que macaqueia um ferry-boat falido, e vai enfear uma das cidades e baías mais belas do mundo. Triste Bahia, Gregório de Matos tinham razão!