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Francisco e Trump, o mais e o menos

  • 27 de Abril de 2025

Francisco e Trump têm origens semelhantes, nasceram em bairros marginais de grandes cidades, Flores em Buenos Aires e Queens em N. Y. Os dois chegaram à Presidência de nações prestigiosas, mas decadentes, o Vaticano e os EUA. Ambos foram sucessores de governantes fracos, Bento XVI e Biden e tinham a mesma ambição, modificar o mundo.

Param aí as semelhanças. Francisco era simples, gostava de crianças, risonho e bem humorado, humano, acolhedor e progressista. Defensor da paz, do diálogo inter-religioso, do meio ambiente, dos mais discriminados: pobres, imigrantes, mulheres e homossexuais. Foi um crítico corajoso do modelo de desenvolvimento concentrador mundial, com enorme habilidade política e diplomática. Reformou a Igreja Católica e sanou a corrupção e a pedofilia dentro da Igreja.

Trump é enfezado, carrancudo, arrogante e negativista. Se diz defensor da paz, mas manda bombas para a guerra em Gaza, deflagrou um conflito comercial com a China, desestabilizou a economia mundial com o seu tarifaço ameaçando a globalização e gerando potencialmente uma estagflação interna. Se isolou do mundo rompendo com o Acordo de Paris, com a OMS, com aliados tradicionais e cancelando o auxílio aos países mais pobres ao fechar a agência USAID.

Desrespeita direitos civis e cria mal-estar interno ao demitir milhares de funcionários, cortar programas sociais, bolsas de estudos e subsídios à pesquisa e às universidades. É abertamente expansionista, elitista apoiador dos hiper ricos - Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg - e contrário à inclusão social. Homofóbico, misógino e xenofóbico deportando milhares de imigrantes hispano-americanos num país historicamente de imigrantes.

Trump não podia ser mais antipático a seus cidadãos e do mundo inteiro, gerando protestos internos e no exterior que tendem a crescer. Sua antipatia contrasta com a imensa popularidade de Francisco, como ficou patente na ocasião de sua morte com declarações de líderes religiosos e chefes de estado de todas as tendências e a presença de 160 delegações e 50 chefes de estados no seu sepultamento. Francisco conseguiu o milagre da unanimidade, que não se via há muitos décadas ou séculos, diante de uma ONU que já não existe.

Trump, que não nutria nenhuma simpatia por Francisco, vai a seu sepultamento para pegar carona na sua popularidade sem fronteiras, o que demonstra que ele já sente o peso de seu desprestígio interno e internacional.

Não será fácil suceder ao Papa Francisco. Se a escolha for um cardeal progressista, dificilmente ele conseguirá levar adiante seus avanços pela oposição de uma Cúria Romana super conservadora, que o próprio Francisco dizia ser a última Corte da Europa. Se a escolha for um conservador, a resistência da ala progressista da Igreja poderá levá-lo à renúncia, como ocorreu com Bento XVI. Benvindo o novo Papa!


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