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Iconografia baiana numa coleção privada

  • 25 de Maio de 2025

Salvador tem uma iconografia excepcional, mas não tem um museu urbano, tem viadutos. O Museu da Cidade, no Pelourinho, foi fechado. Preenchendo essa lacuna, foi publicado no ano passado um livro importantíssimo sobre a Bahia que teve pouca repercussão na mídia e instituições culturais locais. Nele estão reproduzidas 269 imagens das mais importantes relativas à Bahia, do século XVII ao XIX, de uma coleção que reúne 50.000 itens e inclui também documentos. O livro tem como organizador Pedro Correia Lago e textos do colecionador, Frank Abubakir, do historiador Daniel Rebouças e de Chico Senna.

            Parte dessa coleção foi herdada do casal Maria Cecília e Paulo Geyer, avós de Frank Geyer Abubakir, carioca que passou parte da infância e adolescência em Salvador e foi ampliada por ele e sua esposa Flávia Barreto de Araujo Abubakir, soteropolitana, durante 25 anos de pesquisas e aquisições. Eles são os fundadores do Instituto Flavia Abubakir, que além da coleção mantêm o Cine Glauber Rocha.

           Dentre as imagens reproduzidas estão os óleos dos pintores visitantes do século XIX, F.-R. Moreaux, A -L. Buvelot e J. Righini, duas dezenas de aquarelas e desenhos, muitos deles inéditos, e ainda os mapas de Marcgraf de 1647 e o de Joos Coecke de 1624, recentemente descoberto, fontes importantíssimas para a história urbana de Salvador. 

            Esses óleos e aquarelas mostram as cores que as fotos em preto e branco de B. Mulock, G. Gaensly escondem, e revelam o verde das encostas e o branco da cal e o amarelo da tabatinga do casario que servem de fonte à colorização de enormes ampliações dessas mesmas fotos realizadas por Floro Freire.

            Uma imagem importantíssima de Salvador não aparece no livro, Sítio e empresa de la Ciudad de Salvador [...], que se guarda do Museu Naval de Madri, a única que retrata a cidade, a voo de pássaro, vista da parte do leste, de autoria de um pintor anonimo da esquadra de D. Fradique de Toledo Osório que em 1625 expulsou os batavos de Salvador.

Dr. Luiz Viana Fo., encantado com o quadro, mandou fazer uma cópia para sua coleção. Com sua morte, Chico Senna quando diretor da F. Gregório de Matos o adquiriu da família. O quadro ficou no gabinete do Prefeito Antônio Imbassahy. Seu sucessor, que não gostava dessas velharias, o mandou para o saguão do prédio da ABI, onde foi danificado, restaurado e ali permaneceu até 2020. Por mimetismo foi parar no Museu Náutico da Bahia, que não tem nada a ver com o quadro, pois em 1625 ainda não existia a Marinha do Brasil, ao invés de exibido em um museu da FGM.

            Frank e Flavia Abubakir, os maiores acionistas da Unipar Carbocloro, seguem o exemplo de outros grandes empresários nacionais, como Assis Chateaubriand, José Mindlin, Norberto Odebrecht e Roberto Marinho de promover a cultura brasileira pouco valorizada pelo estado nacional.


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